segunda-feira, 26 de setembro de 2011
a sala escura.
pierrot. de boas intenções. desaprendido da vida. sonhador. e, apesar de não saber o verdadeiro sentido do amor, só sabia amar. vivia da entrega. era feito de bem. seu espírito era enorme. e o seu coração? ah, o seu coração... uns diziam que era um arranha-céu. outros contavam suas migalhas. ele? apesar de, por vezes, achar grandiosidades, sentia o maldito bater apertado, levando-se para frente, embalando-se, e dando um murro para tras. quase o afogava, efervecia sua garganta, dormia suas pernas, e o regredia dois ou três passos. mas ainda assim, vivia. procurava focar-se em tudo. trabalho, estudos, casa. mas nem tudo ia bem... eram dias frios, setembro, correria. sua insônia e sua condição o trouxerem a alma mais linda, o ser mais autêntico, os olhos mais... anímicos. e o coração resolveu pular, garrar-se no novo e desmurrar os pulmões. carinho, atenção. a-feto de amor. a vida, bandida, vendia-se por um ou dois carinhos. e o destino, algoz como tal, trocou as posições. tanto da alma, tanto do pierrot, dando do inverno. era tudo frio. era tudo silêncio. nem bem as árvores sabiam a quem recorrer. derrubaram suas folhas como primavera, e sentiam frio por estarem despidas neste vento. alias, ventava muito por ali. oxalá as posições fossem terçãs. não, trucidavam o homem como assassinas. o matavam de frio. o pisoteavam. chutavam sua fronte. expunham seus medos e vergonhas. regurgitavam lodo em sua silhueta branca, amarga e mal-querida. mas o homem, triste que só, acostumara-se com murros e pontapés. tinha sempre a sensação de ser um rato de laboratório, tomando venenos como promessas. ilusões como curas. acordara. e doia, doia muito. sangrava. estava a beira de um abismo, e não... ele não sabia voar. sua visão permitia apenas um palmo. breu. escuridão. evacuaram todas as cenas. enegreceram aquele lugar. o homem entrou, e fechou a porta. dera dois passos, nem bem sentia os pés no chão. seus olhos já eram inuteis. e o seu coração, de tão a frente que estava, quando voltou, arrebentou suas costas, abrira uma fossa, e atirara-se do abismo em que homem se encontrava. agora o pierrot estava lá, de pé, em uma sala escura, procurando apenas um interruptor de luz. não sabia o tamanho da sala. sequer sabia se era uma sala. balbuciara oração qualquer, e tateava as paredes, correndo sempre o risco de pisar em seu coração suicida, que estava no chão, ao alcance dos seus pés.
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