quarta-feira, 27 de julho de 2011

tempo. (quarta estação)

faz tempo pra mais nada,
os olhos não vão mais abrir.
o silêncio é o que mais me cala,
a dor é o que te traz aqui.

tempo. (terceira estação)

faz tempo pra balanço.
fechar as portas da emoção.
descaso com quem descasou-me,
ou arrisco mais uma fração?

tempo. (segunda estação)

faz tempo de chuva.
o céu escurece, as nuvens se deitam.
e as gotas que eu secava do teu rosto,
ao mirar-me lá de cima, se deleitam.

tempo.

faz tempo desde ontem.
a saudade me consome.
tudo mudou em tão pouco tempo,
ou eu quem mudei e não mais te mereço?

meras trevas.

ouço sussurros no corredor,
pode até ser imaginação.
as seringas não me satisfazem,
muito menos essa armação.

os aventais sujos.
as pinturas cegas nos quadros.
os demônios tatuados
em cada gota do meu escarro.

não lembro quando comecei,
e nem sequer tentei.
tudo era lindo, abstrato,
e agora é a luz do teu retrato.

corro até meu peito inchar,
os batimentos ameaçando parar.
as feridas são banais
estampadas nas capas de jornais.

se eu voltasse e pudesse tudo mudar.
ser inquilino dos meus próprios medos.
eu me acostumaria ao velho desejo
e não faria mais parte do teu receio.

existem vários modos de falar e escutar:
alfas, ômegas, ódio ou amar.
mas de nós dois, eu falo como se fosse a terceira pessoa do singular,
e me vejo fora da vida que sempre supus estar.

corro da guerra, as lágrimas brotam.
canções de paz, hinos de horror.
eu acabo com as drogas
e elas acabam com meu amor.

eu deixo aqui,
talhado na lápide.
toda a vida que desperdicei
durante o tempo em que amei.

domingo, 24 de julho de 2011

sujeira.

eu tento fazer promessas
que me soam tão incertas.
eu falo o seu futuro,
o você o torna obscuro.

eu entro em becos sem saída,
eu mergulho a fundo na minha sina.
nunca deixei os tempos de menino,
mesmo que da vida tire fino.

cansa tentar ser o sujeito padrão
num mundo que anda na contra mão.
bem na real, quer saber?
é mandar tudo se foder.

terça-feira, 19 de julho de 2011

passa tempo.

se o vento parasse de soprar,
se as cores se perdessem no ar,
se as folhas parassem de cantar,
se você resolver não passar.

seria difícil enxergar,
com tudo que hoje eu tenho,
a vida passa devagar,
e eu vivo à sombra do teu jeito.

se o tempo me fizesse um favor,
parasse no instante de um beijo.
se a tua pele me emprestasse calor,
realizando os sonhos em que nos vejo.

segunda-feira, 18 de julho de 2011

julia.

de noite, céu se fecha
e fico aqui só pra te ver.
é claro que clarão do dia
faz sentido com você.

depois de te ver uma vez,
sentir teus braços, uma só vez.
agora sei dos teus abraços,
e é concreto meu motivo
pra sentir saudades tuas,
julia.

sei que ficas triste quando
falo coisas que não faço.
sei porque também me sinto
mal quando eu não te acho.

agora sei dos teus abraços,
e é concreto meu motivo
pra sentir saudades tuas,
julia.

terça-feira, 12 de julho de 2011

de nós.

descaso.
des-caso.
ex-caso.
escasso.
refaço.
desfaça.
disfarça.
demarco.
de fato,
des-tato,
retrato.
(da capo)

ventania.

sentidos desgovernados.
terra de ninguém.
alguém separa a guerra.
e prega o próprio caos.

folhas rasgam-se tão sós,
caem sobre o lodo.
afastam-se de nós,
de mim, meu próprio algoz.

ex-faca a reação.
aduba a refração.
defecam-se sinais,
recai a solidão.

a solidão.

a solidão.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

cultural.

vejam,
não há mais nada em volta,
nem ar, nem vácuo, nada,
é claro que a vida se afasta,
é escuro não saber porquê.

leiam,
existem sinais invisíveis de sofreguidão.
pessoas lutando, pés presos no chão.
amantes chorando qualquer situação,
e fetos mamando qualquer podridão.

sejam,
pois ser é o desafio de um são,
re-ser pra crescer a esquecida nação,
ser e merecer a simples condição,
de, o nome na história, ser cidadão.

sábado, 9 de julho de 2011

muro das lamentações.

te agarrei com mãos de fumaça.
e quando menos percebi,
num ato de desamor,
mesmo que perfurando minha mirada,
desolhou meus sonhos mais internos.

é curioso como as palavras
fluem mais na tristeza.
é curioso perceber o quão despoeta somos.
simplesmente traçar linhas tortas
lamentando-se da vida de rei que levamos.

mas só quem morre de amor vive ilusões.
só quem é capaz de amar e se perder,
só quem adapta-se a vida conforme a mentira
entende que, qualquer dor não é uma dor,
mas um perjúrio de lamentações,
um muro de desrealizações.

a mente perfura o coração,
o estômago pesa mais do que qualquer coisa.
os pés, cansados, prostam-se aposentados.
alma já não há. e coragem?
ah, coragem...
essa nunca deu seu oi.

terça-feira, 5 de julho de 2011

retalhos. -quarto ato-

e me miras como um todo,
olhando o que mais íntimo d'alma fosse.
segure meu coração, e o aperte,
dele escorrerão as iniciais do teu nome.

retalhos. -terceiro ato-

é lógico que tudo
não passa de inspiração.
por suposto, ver o mundo,
no nosso uno coração.

retalhos. -segundo ato-

se dentro de ti não me encontras,
deixe um recado na geladeira.
afinal, arrombar portas,
é a atividade do poeta.

retalhos.

saibas, que por tão querida em mim,
abandonar-te é fora de questão.
na hora em que não me encontrares,
tentes bater nas portas do teu coração.

segunda-feira, 4 de julho de 2011

mudou!

faz tanto frio sem você.
mas não devia.
até então não era nada, nada,
nada além do que sabia.

é tão estranho o sol se por,
enquanto nasce aí.
distância, nem tanta, mas se faz
milhas de ti.

eu fico sem norte,
e não quero olhar pra trás.
não era pra ser,
mas levas contigo minha paz.

me culpo em saber,
que é tarde demais,
já não sei porque,
mas olho por onde vais.

e se eu me preocupo,
e se eu te protejo,
não é porque eu juro,
e nem por desejo.

é só pelo fato,
de te querer bem.
talvez não inteira,
mas inteiro me tens.